DA REDAÇÃO | Cultura&Realidade, Por Diogeano Lima
Sempre que começo a escrever o artigo de minha coluna semanal, me sinto um pouco perdido sobre como devo começar esta coluna, a verdade é que, eu procuro entregar aos meus leitores uma experiência diferente daquilo que normalmente se encontra nas colunas tradicionais de críticas de cinema, que são em sua grande maioria: diretas, excessivamente técnicas, chatas e sem essência.
O que eu quero entregar ao leitor é exatamente isso: um texto que revele a experiência que ele pode ter com o filme, um texto que o desnude de (possíveis) falsas expectativas, pois na minha singela visão, o que tem determinado para muitas pessoas se um filme é bom ou ruim são as expectativas que costumamos criar sobre determinado título, e isso pode ser facilmente confirmado quando aprendemos a gostar de um filme apenas quando o assistimos pela segunda vez (em alguns casos em uma terceira vez ou até mais).
Reveladas essas rápidas verdades, finalizo assim a minha pequena introdução, agora nos foquemos sobre o filme que intitula nossa coluna semanal: “Pieces of a woman”, recente lançamento da Netflix, representa um gênero que sinceramente eu jamais imaginaria que aprenderia a gostar tanto como o DRAMA!
“Pieces of a woman”, ou em tradução livre “pedaços de uma mulher” dirigido pelo cineasta húngaro Kornél Mundruczó, conta a história de um jovem casal, Martha e Sean, que estão na expectativa do nascimento de sua primogênita.
Detalhe importante é que, Martha, interpretada pela atriz britânica Vanessa Kirby, que também atuou no papel da princesa Margaret nas duas primeiras temporadas da série “The Crown”, decide que a sua filha nascerá de parto normal e em casa.
No entanto, o parto não acontece da forma que esperava, a parteira escolhida por Martha estava ocupada no momento em que a bolsa se rompe e manda uma substituta em seu lugar, e os primeiros trinta minutos do filme mostram o desespero da parteira substituta para garantir que o parto aconteça e apesar de a criança nascer com vida, não é possível evitar o seu óbito, fato que a tornará ré em um processo judicial durante o filme.
A partir de então, o filme se foca no processo de luto daquela mulher que precisa cauterizar a dor e o trauma de perder a sua primeira filha enquanto o seu relacionamento com o seu companheiro Sean, interpretado por Shia LaBeouf definha junto com o seu próprio senso de lucidez.
O que se torna evidente no filme é uma cena comum do nosso dia a dia, o quanto é senso comum acreditar que o que costuma ser bom para nós é utilizado como remédio para os outros, como se todo mundo passasse pelo mesmo processo de dor e de cura e, portanto, todo mundo sentisse a dor de maneira igual.
É possível perceber, que, por mais que as pessoas ao redor de Martha, a amassem, não queriam “aconselhá-la” apenas para o próprio bem de Martha, mas para bem delas próprias, e esse método egoísta de querer ajudar os outros, quando na verdade se deseja ajudar a si próprio, atropela o próprio processo de recuperação que é particular de cada indivíduo, e isso fica claro pelas próprias intromissões causadas pela mãe de Martha.
Presenciar o processo de recuperação de Martha que de forma tão inesperada e trágica segura em seus braços a sua filha morta nos fazem sentir íntimos da personagem, graças a excelente atuação de Vanessa Kirby, não sendo à toa que possui, ainda, grandes chances de ganhar o Oscar de melhor atriz.
“Pieces of a woman”, é um drama denso, capaz de revelar bastante sobre nós mesmos ao ponto que desnuda a forma como escolhemos enxergar a dor do outro a partir de nossa própria dor e da forma como devemos ajudar quem amamos para não cairmos na armadilha de não buscarmos ajudar apenas a nós mesmos em vez de quem realmente está sofrendo.