A timidez não é uma condição definitiva e imutável, mas algo que pode ser trabalhado e desenvolvido
POR Danilo Ciconi de Oliveira
No meu trabalho com as pessoas, não costumo atribuir ao que elas fazem ou a como se portam o status de “defeito” e “qualidade”. Prefiro afirmar que, por serem diferentes, as pessoas apresentam características diferentes. Uma destas características, e uma das quais as pessoas mais se queixam por não conseguirem controlar, é a timidez. No contato com adolescentes e jovens, a maioria costuma se apresentar afirmando categoricamente: “sou tímido” (essa certeza costumeiramente se desfaz após a aproximação do adolescente com os demais jovens do grupo).
Então, vamos entender um pouco mais sobre esta característica tão presente, tão humana.
Timidez e Introspecção não são sinônimos
Introspecção é uma característica pessoal importante, que auxilia a pessoa a entrar em contato com suas próprias emoções e no seu processo contínuo de autoconhecimento.
As pessoas introvertidas, geralmente, têm mais facilidade em interpretar as situações do dia a dia e em encontrar soluções adequadas para a resolução de conflitos.
Quando falamos sobre timidez, ao contrário, estamos nos referindo a um grau elevado de ansiedade que acomete as pessoas diante de situações de exposição social diversas. A timidez excessiva rouba de nós a espontaneidade e, por vezes, nos leva a perder/abandonar boas oportunidades na vida. Trata-se de um medo exagerado do olhar e do julgamento do outro e está associada, muitas vezes, a dificuldades de auto aceitação e a baixa autoestima.
A Timidez é resultado de um processo de aprendizagem social
Ao longo de toda a vida, mas especialmente durante a infância, os contextos sociais nos quais estamos inseridos vão nos estimulando a emitir determinados tipos de comportamentos. Vamos, a partir da experiência, assimilando estas formas de nos comportar e elas vão tomando parte no nosso repertório comportamental (como eu costumo agir diante de situações similares?).
A criança que, por exemplo, é estimulada pelos pais a realizar pequenas tarefas (pedir algo ao atendente do supermercado ou da padaria, atender ao telefone e anotar os recados etc.) provavelmente apresentará, no futuro, mais facilidade em se comportar frente a situações de comunicação e exposição social. Em contraponto, a criança que é pouco ou nada estimulada a se comunicar com as pessoas, provavelmente, apresentará dificuldades diante dessas mesmas situações. A diferença não está na genética ou no “caráter” da pessoa, mas no seu desenvolvimento psicossocial.
Ou seja, a timidez é resultado de falhas no processo de aprendizagem social. Não é uma característica inata, mas, sim, aprendida. Não é uma condição definitiva e imutável, mas algo que pode ser trabalhado e desenvolvido.
A Timidez está relacionada aos nossos Valores e Crenças pessoais
As experiências que temos na vida ajudam a formatar os valores e crenças que adotamos como verdadeiros. A depender desses valores e crenças, nosso nível de ansiedade social (timidez) é maior ou menor, de acordo com o contexto no qual estamos inseridos.
O jovem que considera o contato com a família da namorada um valor extremamente importante em um relacionamento amoroso certamente ficará mais ansioso antes de visitar a casa dos sogros, no início do relacionamento, do que aquele para o qual a família não é algo tão relevante assim na relação do casal.
A estudante que acredita ser má aluna ou incapaz de aprender determinada disciplina, fica mais ansiosa antes de uma avaliação oral que aquela que acredita no próprio potencial.
Deste modo, crenças e valores disfuncionais afetam diretamente nosso grau de ansiedade social/timidez. Identificar e lidar com tais valores e crenças é essencial para trabalhar os obstáculos que colocamos à nossa própria conduta. A Psicoterapia, especialmente a de orientação cognitivo-comportamental, ajuda a pessoa a olhar para seus valores e crenças pessoais e a perceber como estes influenciam os seus modos de se comportar.
É possível vencer a Timidez!
Por tratar-se de um problema de comunicação fruto de falhas na aprendizagem social do indivíduo, é perfeitamente possível – e qualquer um pode – vencer a timidez.
É necessário que se pontue, no entanto, que superar a timidez é um processo gradual, que deve ser vivido passo a passo. Permitir-se participar de situações de exposição social nas quais você se sinta mais seguro para estar, elencar pequenos objetivos comportamentais para serem realizados cada dia, desenvolver estratégias de enfrentamento da ansiedade (como técnicas de relaxamento, respiração e visualização), etc., são algumas formas de impedir a timidez de acarretar prejuízo significativo à nossa vida.
A timidez, reforça-se, não é “defeito”, mas característica pessoal. Trabalhar os próprios valores acerca de si mesmo – a autoimagem e a autoestima – também é caminho para superar nossas limitações pessoais.
Em ocasião futura, tornaremos a refletir sobre o assunto e discutiremos estratégias que podem nos ajudar a melhorar nosso desempenho pessoal/social e vencer a timidez. Fundamental é conhecer a si mesmo e as próprias limitações e não ter medo de dar um passo de cada vez.