Essa semana recebi algumas perguntas por meio da rede social e uma especialmente me chamou a atenção: “Podemos ser causadores das dores em outra pessoa?”
É curioso observar como a percepção de vida varia de pessoa para pessoa. Cada opinião é única e talvez isso faça a vida ser algo tão fascinante ao mesmo tempo aterrorizante. O que parece óbvio para uns é um equívoco para outros.
Sobre a pergunta em questão, penso que toda relação humana de respeito implica na responsabilidade de saber que o que eu fizer pode impactar diretamente (positiva ou negativamente) na vida do outro. Seja em família, no trabalho, na amizade ou no amor, temos sempre a oportunidade de sermos promotores de momentos felizes, assim como de dores e sofrimentos.
Uma pessoa que não pensa ter essa influência sobre a vida do outro e por isso fala e faz o que bem entender sem nenhuma preocupação de como aquilo irá repercutir é porque nela predomina o egoísmo (apego excessivo aos próprios interesses).
Algumas pessoas, sob a justificativa de estar falando a verdade, ofendem e magoam quem mais amam.
É preciso compreender que nem sempre a sinceridade é uma virtude. Se eu disser para uma pessoa que ela é gorda, irei magoá-la gratuitamente. Não estou dizendo com isso que é conveniente mentir. Mas dizer o que pensa, sem nenhuma preocupação se aquilo irá ferir o outro, está longe de ser uma vantagem.
Se o que eu for falar não edificar o interlocutor, preciso considerar a opção de me calar. Ser honesto e sincero não me dá o direito de dizer tudo que penso. A verdade não subtrai o caráter ofensivo da afirmação.
Sócrates, filósofo grego, nos deixa a reflexão das três peneiras antes de falar qualquer coisa:
A primeira peneira é peneira da “verdade”; a segunda, a da “bondade”; e a terceira, a da “necessidade”. Se passou pelas três peneiras, conte, pois eu, você e o outro iremos nos beneficiar. Caso contrário, guarde para você.
Precisamos nos preocupar com isso se quisermos agir de modo construtivo nas nossas relações, pois é quase impossível nos relacionarmos completamente blindados em relação aos comentários e atitudes do outro. Relacionar implica, entre outras coisas, se importar com o que o outro fala, pensa e sente a meu respeito, ou seja, dependo parcialmente da percepção do outro para manter meu bem-estar.
Quando convivo com alguém que me critica, ironiza, tem atitudes desleais, não passa confiança, degusto grande sofrimento. Ao passo que, quando convivo com o oposto disso, tenho sensação de acolhimento e segurança. Uma grande felicidade.
Portanto, seria um equívoco me eximir da responsabilidade de ser causador de dores e também alegrias nos outros. Temos sempre a opção de escolher.