Sabe quando você faz uma pergunta objetiva e a pessoa lhe responde: “a história é longa, tudo começou em 1983…”
Geralmente, pessoas que falam demais, possuem um baixo nível de autocrítica, o que lhes permite acreditar que suas histórias, intermináveis, são de interesse geral.
Os tagarelas incorrem sempre no seguinte comportamento verbal: repetem as mesmas histórias várias vezes, fazem constantemente alusão ao passado, dão conselhos que ninguém pediu e subestimam a capacidade de compreensão do outro, por isso se atém aos mínimos detalhes.
Conta uma lenda que, numa certa manhã, um homem muito sábio convidou seu filho para um passeio no bosque. Ao chegarem a uma clareira, depois de um pequeno silêncio, o pai perguntou ao filho:
– Além do cantar dos pássaros, você ouve mais alguma coisa?
O filho prestou bastante atenção e respondeu: Estou ouvindo apenas o barulho de uma carroça.
– Isso mesmo, disse o pai, é uma carroça vazia.
Pergunta o filho:
– Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
– É muito fácil, respondeu o pai, quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que ela faz.
Já dizia Renato Russo: “fala demais por não ter nada a dizer”. Mas, mesmo que tenha algo a dizer, quando um falante ultrapassa a cota tolerável de palavras, as pessoas param de prestar atenção.
Quando estudamos para ser psicanalistas, treinamos muito nossa “escuta”. Aprendemos que mais importante que saber perguntar, é saber ouvir. Escutar não é necessário só para se formar um bom psicanalista, mas também para ser um bom líder, um bom cônjuge, um bom funcionário, um bom amigo, um bom conviva. O problema é que a maioria das pessoas são péssimas ouvintes. Não querem escutar, só querem falar.
Há pessoas que no decorrer da sua logorreia (profusão de frases sem sentido e/ou inúteis), até fazem uma pergunta ou outra, mas só por educação, pois elas mesmas respondem a pergunta que fizeram. Alguns falam tão sem pausa, que para você conseguir interrompe-las, é preciso acertar o momento exato da sua respiração.
São pessoas difíceis de serem silenciadas e a elas não cabem indiretas. Dizer que está atrasado, contando com o bom senso de um loquaz, não funciona. É preciso ser direto. Interromper a verborragia sem pudor. Caso contrário você perderá todos os seus compromissos, além da sua paciência.
Os faladores compulsivos sofrem de um problema de auto referência, além de se acharem conhecedores de todos os assuntos. Parecem formados em “tudologia”. Falam pelos cotovelos, mas são péssimos ouvintes.
Aliás, ouvir de verdade implica despir-se de todos os preconceitos, das verdades absolutas e de qualquer vestígio de arrogância, para se colocar no lugar do outro. Implica em entregar-se. O difícil exercício da empatia. Calar-se e ouvir é um profundo ato de amor ao próximo.
Mas, se você é alguém que não consegue parar de falar, saiba que maturidade também consiste em aprender a dar comando àquilo que te comanda.