DA REDAÇÃO | Viva bem
Até 2030, a DPOC deve ser a terceira causa de morte no mundo
Engloba sintomas de bronquite crônica e enfisema pulmonar, o que dificulta a respiração
O principal fator de risco é o tabagismo e há casos de pessoas com predisposição genética
O tratamento é realizado com medicações, porém pode ser indicada uma reabilitação pulmonar e até uso de oxigênio
É provável que a maioria das pessoas não conheça a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). E essa nomenclatura complexa resume os sintomas e a gravidade da doença, que tem uma mortalidade bastante alta —de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), até 2030 a previsão é que a doença se torne a terceira causa de morte no mundo. Já no Brasil é a quarta causa de mortalidade: estima-se que 40 mil brasileiros morram todos os anos em decorrência de complicações da doença.
Depois desses dados alarmantes, fica a pergunta: afinal, o que é DPOC? Podemos defini-la como uma doença que engloba sintomas de bronquite crônica e enfisema pulmonar, o que dificulta bastante a respiração.
“É uma doença bastante comum, prevenível e tratável. Caracteriza-se por uma inflamação nos brônquios que leva a uma redução da passagem de ar (bronquite). Também acarreta uma destruição dos alvéolos pulmonares, substituindo os tecidos pulmonares por grandes vazios (enfisema pulmonar)”, destaca Frederico Fernandes, presidente da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia).
É comum ocorrer períodos de “exacerbação”, ou seja, uma piora aguda da condição pulmonar e dos sintomas. Isso causa grandes riscos para a pessoa com DPOC. A doença geralmente acomete pessoas acima dos 50 anos, mas também pode atingir adultos jovens.
Os sintomas variam de leve a muito grave. A respiração fica cada vez mais difícil conforme a evolução da doença. “Os sintomas podem perdurar por meses ou anos. Há falta de ar e cansaço inicialmente ao realizar algum esforço. Mas é uma doença progressiva que causa crises e suscetibilidade maior no indivíduo para infecções respiratórias”, afirma Mônica Corso, professora de pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Muitas vezes, o cansaço é atribuído a idade, já a tosse com secreção é vista como um “pigarro normal”, principalmente por quem fuma. Isso leva a um atraso no diagnóstico, o que compromete a qualidade de vida e aumenta a mortalidade. Por isso, é importante ficar atento aos sinais e sintomas.
Veja, a seguir, quais são os principais:
Tosse frequente com ou sem catarro;
Falta de ar;
Respiração ofegante;
Aperto ou chiado no peito;
Cansaço;
Infecções respiratórias frequentes;
Demorar mais tempo para expirar do que inalar.
Esses sintomas afetam muito o dia a dia de quem sofre com DPOC. Mas, infelizmente, ela ainda é bastante desconhecida, até mesmo por quem tem o problema.
“A maioria das pessoas não tem a menor ideia do que DPOC signifique. A alta mortalidade da doença é um fator importante, mas ela leva a uma intensa perda de capacidade funcional fazendo com que ocorra uma diminuição na qualidade de vida. A pessoa passa a depender de medicações e tratamentos para recuperar sua funcionalidade, às vezes, por toda vida”, explica Fernandes.
O que causa a DPOC?
O principal fator de risco é o tabagismo —cerca de 85% dos casos ocorrem por causa dele. Por isso, fumantes (e também passivos) e ex-tabagistas estão entre os mais atingidos pela DPOC. Estima-se que cerca de um a cada cinco fumantes desenvolve a doença. Isso ocorre porque as partículas e os gases tóxicos do tabaco causam inflamações nos pulmões.
“Importante frisar que não é apenas o cigarro comum que causa DPOC. A queima do tabaco em outros dispositivos como cachimbos, charutos ou narguilé também são prejudiciais à saúde e aumenta as chances da doença. Além disso, quem está exposto frequentemente a poluição atmosférica, fumaça tóxica e produtos químicos fica mais suscetível”, diz Celso Padovesi, pneumologista da rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Há também casos de pessoas com predisposição genética para a DPOC. Acredita-se que 5% dos indivíduos com a doença tenham deficiência de uma proteína chamada alfa-1-antitripsina.
Quem tem asma ou outras condições respiratórias também está mais suscetível à doença. E algumas profissões expõem trabalhadores a fatores de risco para a DPOC —é o caso de quem trabalha com produtos químicos, gases e poeira sem proteção. Ao inalarem esses poluentes com frequência, comprometem seriamente os pulmões.
Diagnóstico e formas de tratamentos
Vale destacar que, segundo a SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), a doença atinge 6 milhões de brasileiros e apenas 12% recebem o diagnóstico. E além disso, entre os que identificam a doença, somente 18% seguem o tratamento.
Para o diagnóstico, é necessária uma avaliação do médico que deve identificar os sintomas e se há algum fator de predisposição para a doença. O exame mais importante é a espirometria, que mede a capacidade da função pulmonar.
A pessoa respira fundo e, depois, sopra o mais forte que consegue em um tubo conectado a uma máquina. Dessa forma, avalia-se a quantidade de ar que a pessoa expira e também a rapidez com que é capaz de expelir o ar.
Podem também ser solicitados outros exames como radiografia de tórax, exames de sangue e testes de exercícios. Essas medidas conseguem determinar a gravidade da doença e os tratamentos mais adequados.
“A progressão da doença limita as atividades diárias e aumentam-se as chances de internação. Os pacientes mais graves evoluem para uma insuficiência respiratória crônica, o que leva a necessidade de uso de oxigênio e terapia domiciliar. Por isso, é importante o diagnóstico precoce” completa Corso.
Após a identificação da doença, recomenda-se que a pessoa pare de fumar, caso ainda use cigarro. Essa é a única forma de evitar a rápida progressão da doença e preservar o pulmão. Alguns fumantes demoram para buscar ajuda médica, pois acreditam que os sintomas como tosse e falta de ar são decorrentes do tabagismo, o que agrava ainda mais a situação.
Para quem sente falta de ar, são indicados medicamentos inalatórios (popularmente conhecidos como “bombinhas”). Eles ajudam a relaxar os músculos próximos das vias respiratórias, o que facilita a passagem de ar. Já os medicamentos como corticoides diminuem as inflamações e retardam a lesão pulmonar.
Também é preciso manter a vacinação em dia, especialmente a vacina pneumocócica (contra a pneumonia) e a influenza. Essa atitude reduz as chances de desenvolver uma DPOC devido a uma infecção pulmonar. Em alguns casos, indicam-se medicamentos especificamente para reduzir a taxa de “exacerbações” visando aumentar a qualidade de vida.
Outras medidas terapêuticas necessárias
Além dos tratamentos medicamentosos e mudanças no estilo de vida, algumas vezes, pode ser necessária uma reabilitação respiratória pulmonar, cirurgias ou suplementação de oxigênio.
Reabilitação respiratória pulmonar: são programas desenvolvidos de forma individual com técnicas e exercícios que visam melhorar o condicionamento e a capacidade física de quem tem DPOC, principalmente pessoas com falta de ar. Essas técnicas aliviam os sintomas da doença e promovem mais independência e segurança.
De acordo com uma pesquisa do Internacional Journal of Chronic Obstrutive Pulmonary Disease, os programas de reabilitação pulmonar são benéficos para todos os estágios da DPOC, principalmente para os que apresentam dificuldades de esforços físicos. Entre os benefícios, estão a melhora na resistência muscular, a redução das internações e melhora no estado psicológico. A longo prazo, também aumenta a autonomia.
Para Renata Negri Sapata, coordenadora do serviço de fisioterapia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), “o objetivo é melhorar as trocas gasosas, a função da musculatura respiratória e aumentar a tolerância aos exercícios”.
Segundo Fabio Pitta, presidente da Assobrafir (Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva), existem diversos programas de reabilitação pulmonar no Brasil, mas ainda estão restritos aos grandes centros.
“A reabilitação pulmonar é importante, pois contribui com a melhora da condição clínica, física, psicológica, nutricional e funcional dos pacientes com DPOC, promovendo aderência a longo prazo de comportamentos e tratamentos que melhorem a sua saúde”, explica.
Cirurgias: em casos raros, algumas pessoas apresentam uma doença muito avançada, e não respondem aos tratamentos. Por isso, podem ser indicadas cirurgias para remover o tecido pulmonar afetado ou substituir as partes comprometidas. Além disso, há casos em que é preciso realizar um transplante de pulmão, principalmente em pessoas mais jovens
Oxigenoterapia: quem sofre com a DPOC pode ter os níveis de oxigênio mais baixos no corpo e precisar de suplementação. Por isso, em alguns casos, indica-se o uso de um concentrador de oxigênio —que é leve e fácil de carregar, mas dura pouco tempo; ou tanque de oxigênio, que fornece oxigênio por mais tempo, porém dificulta os movimentos, pois é mais pesado. Esses suplementos de oxigênio contribuem com o conforto para realizar as tarefas do dia a dia.
Cuidados adicionais para ter qualidade de vida
Quem tem DPOC precisa ficar atento com a evolução da doença e fazer acompanhamento médico constante. Esse problema de saúde não tem cura, mas há um controle com medicamentos e mudanças no estilo de vida, que visam retardar o progresso da doença. Por isso, é importante manter hábitos saudáveis.
Algumas pessoas podem ficar desnutridas ou com sobrepeso e necessitam também de acompanhamento de um nutricionista. Em alguns casos, são necessários suplementos nutricionais.
“O mais importante para o paciente com DPOC é manter uma alimentação saudável e adequada para as suas necessidades. A obesidade ou a desnutrição tende a piorar bastante os sintomas. Por isso, pacientes obesos ou desnutridos devem ser acompanhados e adequarem sua dieta”, diz Padovesi.
E, claro, não podemos deixar de ressaltar que as pessoas acometidas com a DPOC estão mais vulneráveis ao novo coronavírus, segundo a OMS. Isso acontece porque o vírus que causa a covid-19 ataca o sistema respiratório que, nesses casos, muitas vezes já está comprometido.
Por isso, os cuidados devem ser redobrados e é importante também não afrouxar nas precauções. “Pacientes com DPOC têm maior risco de desenvolver quadros graves de covid-19. A recomendação é manter o isolamento até que a situação epidemiológica melhore”, finaliza Padovesi.