– O articulista Ricardo Rangel, da revista Veja, destacou em sua coluna, esta semana, uma provocação à reflexão dos brasileiros. Com o título “Coisas que só acontecem no Brasil”, ele salienta que “está difícil saber o que é tragédia e o que é farsa nos dias que correm”. –
DA REDAÇÃO I Cultura&Reealidade
Longe de ser um texto que traz informações e opiniões profundas sobre o momento vivido pelos brasileiros, no âmbito da política nacional, o articulista recupera registros de acontecimentos do cotidiano de personagens ligados direta ou indiretamente ao ambiente da Praça dos Três Poderes e adjacências, levando o leitor antenado a rever seus próprios registros de memórias e tirar suas próprias conclusões.
Assim ele inicia sua exposição:
O presidente da República declarou que o Supremo não tem direito de abrir inquérito de ofício.
O governo federal entrou com ação no Supremo pedindo ao Supremo que revogue o artigo do regimento interno do Supremo que permite ao Supremo que abra inquérito de ofício.
O advogado do presidente da República cantou uma mulher casada e fugiu correndo quando o marido da mulher o perseguiu com uma faca.
O presidente da República convocou para o golpe (que ele chama de “contragolpe”). Quando a convocação vazou, irritou-se.
Um cantor convocou para o golpe. Quando a convocação vazou, declarou-se magoado, triste, depressivo e chorou em entrevista. Ao sofrer busca e apreensão, declarou que não tem medo de ir para a cadeia, que não é frouxo, não é mulher. E novamente pediu desculpas em nova entrevista, desta vez na cama.
Um deputado aventou a hipótese de que o cantor tenha usado dinheiro público para comprar uma prótese peniana.
O líder da associação dos produtores de soja desmentiu o cantor, que havia citado seu nome como participante do golpe, e deu como explicação a hipótese de ele ter “tomado umas pingas”. Após sofrer busca e apreensão, o líder desfilou com tratores na porta da Polícia Federal.
O presidente da República entrou com ação de impeachment contra ministro do Supremo.
Um comediante fez ameaças aos ministros do Supremo e pediu o fechamento do tribunal e do Congresso.
Vários coronéis da PM, inclusive um da ativa, comandante de cinco mil homens, convocaram para o golpe.
O golpe tem data, hora e local marcados com um mês de antecedência e conhecidas pelo público. Os militares avisaram que não vão poder comparecer.
Está difícil, no Brasil de hoje, saber o que é tragédia e o que é farsa.