Em uma eleição histórica, 25 pessoas que se identificam como transexuais ou travestis, de 22 diferentes cidades do Brasil, foram eleitas para ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores.
O número de pessoas eleitas em todo o país representa um aumento de 212% em relação às candidaturas eleitas no pleito de 2016. Naquele ano, de acordo com um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), foram 8 candidatos eleitos.
O levantamento foi feito de forma exclusiva pela reportagem do UOL e atualizada em um cruzamento de dados com a Antra.
O aumento de ocupantes de uma cadeira no Legislativo foi um reflexo do crescimento de candidaturas dessa população. Em uma resposta aos ataques do presidente Jair Bolsonaro contra a comunidade, foram registradas 323 candidaturas em 2020. O número representa um aumento de 263% em relação às 89 candidaturas identificadas em 2016 pela Antra.
Em São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do país, se elegeram Erika Hilton (PSOL), Thammy Miranda (PL) e Carolina Iara, da Bancada Feminista (PSOL) e Samara Santana, do Coletivo Quilombo Periférico (PSOL – São Paulo).
Em outras duas capitais do Brasil, as candidatas mais votadas para o cargo de vereador foram mulheres transexuais.
Em Aracaju/SE, Linda Brasil (PSOL) foi eleita com 5.773 votos, enquanto em Belo Horizonte a candidata Professora Duda Salabert obteve a maior votação da história da capital mineira para o cargo de vereança. Duda foi eleita com um total de 37.613 votos.
As outras 19 cadeiras do legislativo serão ocupadas por Paulinha da Saúde (MDB – Eldorado dos Carajás/PA), Benny Briolly (PSOL – Niterói/RJ), Kará (PDT – Natividade/RJ), Paulette Blue (PSDB – Bom Repouso/MG), Thabatta Pimenta (PROS – Carnaúba dos Dantas/RN), Gilvan Masferrer (DC – Uberlândia/MG), Lins Robalo (PT – São Borja/RS), Regininha (PT – Rio Grande/RS), Filipa Brunelli (PT – Araraquara/SP), Isabelly Carvalho (PT – Limeira/SP), Anabella Pavão (PSOL – Batatais/SP), Regininha Lourenço (Avante – Araçatuba/SP), Lorim de Valéria (PDT – Pontal/SP), Tieta Melo (MDB – São Joaquim da Barra/SP), Rebecca Barbosa (PDT – Salesópolis/SP), Yasmin Prestes (MDB – Entre-Ijuís/RS), Titia Chiba (PSB – Pompeu/MG), Brenda Ferrari (PV – Lapa/PR) e Dandara (MDB – Patrocínio Paulista/SP).
Além das 25 candidaturas que foram eleitas, outras 176 pessoas que se identificam como transexuais ou travestis ficaram como suplentes em seus municípios. O número pode ser ainda maior, uma vez a eleição foi adiada em Macapá (AP), em virtude do apagão que atingiu o estado.
Duda Salabert, que obteve o resultado histórico em Belo Horizonte, afirmou que o resultado é “uma vitória da democracia. Quando uma travesti avança toda a sociedade avança”. Ela também lembrou que o resultado é fruto de uma construção política feita ao longo de muitos anos. Duda já era a 4ª mulher mais votada da história do Estado de Minas Gerais, quando concorreu ao cargo de senadora em 2018.
E a segunda-feira da nova vereadora mais votada da história da capital mineira começou como todas as outras, dando aula! Duda, que é professora da rede pública, afirmou que não irá deixar de lecionar enquanto ocupa um cargo político. “A minha atuação na sala de aula é extremamente política, a política vai complementar, mas o maior papel é na sala de aula. Eu sou professora e estou ocupando um cargo político”.
Duda também destacou o fato de ter feito uma campanha “lixo zero”, sem ter produzido nenhum santinho, adesivo ou panfleto. Agora, além da questão da diversidade, ela vê as questões de educação, emprego, áreas verdes e combate às enchentes como principais preocupações para o município.
Além disso, a candidata fez uma promessa de campanha de que iria plantar uma árvore para cada voto que recebesse, Belo Horizonte, portanto, com certeza ficará mais verde nos próximos dias.