Permita-se olhar para as situações que lhe causam dor com amorosidade
DA REDAÇÃO | Luciana Kotaka/Estadão*
Escrever sobre o perdão pode ser um tanto desafiador, já que esse comportamento é visto como um ato voluntário fácil de resolver. Ao perdoar uma situação ou pessoa nos libertamos de um imenso peso que nos prende a algo que machuca e corrói a alma. Temos pensamentos de tristeza, lembramos com pesar e dificilmente enxergamos o quanto seria libertador abrir mão desse sentimento.
Cultivamos a ideia de que ao perdoarmos o agressor estaremos concordando com o mesmo e isso é inconcebível visto o estrago que o sentimento de dor e raiva proporciona, envolvendo nosso orgulho, empatia, apego e valores pessoais. Nós nos pegamos pensando em como soltar algo que proporcionou tanta dor, que nos machucou a ponto de mudar até o nosso comportamento e nossas relações com as outras pessoas.
Nós nos apegamos tanto a situação que nos machucou que deixá-la ir seria largar algo valioso, tamanho significado que damos a mesma. Um processo complexo que vai além do nosso racional. E o que fazer diante dessa situação? Como perdoar algo que promove tanto desajuste interno?
O que não percebemos é o quanto ficar preso a experiências ruins do passado nos faz mais mal do que bem. O constante relembrar só fará com que todo o estresse se manifeste novamente, um constante reeditar da situação. Memórias doloridas não farão com que a nossa vida melhore, não construirá um passado diferente.
Outro ponto a ser pensado é sobre nossa responsabilidade em relação ao fato que nos machucou, pois, às vezes, nos colocamos em situação difícil gerando uma reação do outro que nos magoa. O estrago aconteceu por termos de alguma forma participado, seja também agredindo, difamando, provocando e até confiando em alguém que não merecia. Como se perdoar nesse caso?
Quando conseguimos entrar em contato com os nossos sentimentos vamos identificando os gatilhos emocionais que a situação em questão promove, olhando com compaixão e empatia, não só em relação a nós mesmo, mas ao outro também.
É preciso se colocar no lugar do outro, entender como se comporta, a história de vida e todo o contexto da situação. Parar de olhar somente para a nossa dor, ampliar o olhar. Nesse processo vamos conseguindo liberar esses momentos de tristeza, de mágoa, mas lembrando que para isso acontecer temos que nos dar a chance de compreender mais profundamente toda situação.
Sim, perdoar o que nos causou dor é muito desafiador, mas lhes convido a pensar sobre o assunto, revisitar essas situações de sua vida e permitir que o amor dentro de você seja mais forte do que qualquer situação externa. Somente assim seguirá a vida livre, leve e em paz, mas é importante se lembrar de que a escolha de segurar ou deixar ir é uma decisão interna.
QUEM FAZ
LUCIANA KOTAKA é psicóloga, colunista, blogueira e escritora especialista em comportamento humano.