COLUNISTA | Cultura&Realidade, por Diogeano Marcelo de Lima
O que você faria se estivesse em plena semana de entrevistas ou de provas da faculdade em outro estado e recebesse uma ligação de sua irmã informando que a sua mãe está internada no hospital por conta de uma overdose?
“Era uma vez um sonho”, recente lançamento da Netflix, traz como narrativa um ambiente familiar marcado por diversos conflitos, tendo como pano de fundo vários problemas sociais como as consequências advindas da gravidez na adolescência, violência doméstica, pobreza, preconceito contra “caipiras” (o que no Brasil corresponderia ao preconceito contra nordestinos ou a pessoas do interior) e abuso de remédios, álcool e outras drogas.
Parece exagero, mas o filme da nossa resenha de hoje é baseado em fatos reais, com roteiro adaptado do livro autobiográfico de J.D. Vance traz uma narrativa não linear, ou seja, há uma alternância entre a narrativa do tempo presente com fatos passados, como forma de mostrar ao público uma justificativa para as ações dos personagens no tempo presente com base em acontecimentos da juventude.
Como tem sido de costume da Netflix, foi escalado um elenco de peso, especialmente pela presença das “Leonardo DiCaprio de saias”, como ficaram conhecidas as atrizes Glenn Close e Amy Lou Adams, que tem marcado presença nas indicações do Oscar por grandes atuações, mas sem conseguir, até o momento, levar nenhuma estatueta, perfazendo assim o grande rol dos injustiçados de hollywood.
Esse drama dirigido por Ron Howard (também dirigiu Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo, Uma Mente Brilhante e Rush – No Limite da Emoção) nos conta uma história de superação onde do improvável pode surgir a força motriz para mudar a nossa própria história e a da nossa família.
Seria difícil de acreditar na possibilidade de mudar o destino do personagem principal pela trama apresentada se não fosse baseado em uma história real, pois são muitos percalços, muitas desvantagens a serem enfrentados: um núcleo familiar desestruturado, uma mãe viciada, um ambiente de pobreza e desigualdade social, além do preconceito sofrido por vir de um lugar que só apresenta “jecas”.
Eu pessoalmente tenho um fascínio por filmes baseados em histórias reais, gosto de ver histórias que não foram inventadas, gosto de me surpreender com roteiros que por mais mirabolante que sejam, não saíram da cabeça de um escritor, mas foi cunhada na própria realidade e vai ver por este motivo me afeiçoe com este filme, principalmente porque só cheguei a descobrir que era baseado em fatos reais no final, ou seja, fui profundamente atingido pela surpresa.
Algo importante a saber sobre esse filme é que ele não é linear, ou seja, é necessário estar preparado com as revisitações ao passado do personagem como modo de explicar como os problemas se desenvolveram, o que torna o filme atraente não apenas pela história apresentada, mas também pela forma como foi contada.
No entanto, o ponto fraco que encontrei nesse filme é que, existem muitos problemas sociais que foram apresentados de forma bastante superficial para um filme que tem duas horas de duração. Ele perde a oportunidade de fazer o expectador mergulhar de forma mais profunda sobre muitos problemas sociais que na verdade estão ao nosso redor, e assim gerar no público questionamentos a respeitos do problema para no fim desenvolver a conscientização.
Por fim, é uma pena que nos primeiros atos não foi dado mais destaque a atriz Glenn Close, que durante a primeira metade do filme ficou limitada a poucas falas, uma pena porque ela possui um potencial gigantesco para o papel que lhe foi dado de matriarca, conforme se viu na segunda metade do filme quando ela teve a oportunidade de desenvolver a sua personagem com um pouco mais de profundidade.
“Era uma vez um sonho”, é um drama que retrata a superação de um jovem que pela sua origem familiar tinha todas as probabilidades favoráveis para que se tornasse mais um problema social. O filme mostra que, muitas vezes, uma única pessoa pode fazer a diferença na criação de um jovem e salvá-lo de um destino quase certo de se tornar um viciado ou alguém pior. Embora os problemas sociais apresentados tenham sido tratados de forma superficial, deixando até alguma ponta solta na história, as atuações das atrizes Glenn Close e Amy Lou Adams faz o filme retomar o seu propósito deixando no expectador a sensação de que Glenn Close merecia mais destaque na trama.
Dentre as cenas apresentadas, é possível fazer um paralelo entre a dificuldade de aprendizagem dos adolescentes e o clima de um ambiente familiar desajustado. De fato, é muito difícil um jovem estudante manter a motivação nos estudos quando se encontra no centro dos problemas familiares, seja pelas implicações psicológicas, ou pela impossibilidade de conseguir estudar com o barulho das brigas constantes.
Garantir um ambiente saudável aos jovens é, sem dúvidas, uma forma de garantir uma melhor aprendizagem. Acima de tudo, o acompanhamento dos pais na troca de experiencias e utilizando-se da cautela no que diz respeito as amizades que os filhos vêm desenvolvimento contribuem para a formação dos futuros adultos que também serão futuros pais. A tarefa de pai é muito mais que garantir a subsistência material, requer zelo e acompanhamento diário e não podem ser sonegados aos jovens.
É um filme para emocionar e conscientizar pois os problemas enfrentados pela família são comuns a muitos brasileiros e deve não apenas nos dar mais esperança de os obstáculos podem ser superados, mas também nos conscientizarmos de que somos capazes de mudar um pouco essas realidades, ao menos, dentro de nossa própria família.
Dicas, sugestões e feedback podem ser feitos através do meu instagram: @diogeanomarcelo
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