É certo que, apesar da constante certeza da morte, nunca estamos preparados para a despedida definitiva daqueles que amamos. Sobretudo, se esta se deu de forma repentina.
A morte é um fenômeno universal, inevitável e irreversível. Estamos todos a ela sujeitos. A filosofia, a religião e as artes procuram sentido e finalidade para aqueles que partem. Poucos falam sobre aqueles que ficam.
É certo que, apesar da constante certeza da morte, nunca estamos preparados para a despedida definitiva daqueles que amamos. Sobretudo, se esta se deu de forma repentina. Não dá tempo pra “cair à ficha”. Se em situação de desastre, o impacto emocional é ainda maior.
Tristeza, ansiedade, culpa, raiva… Isolamento social… A reação varia de pessoa para pessoa, mas o processo de luto é sempre certo. Os “sintomas” do luto se equiparam, por vezes, aos da depressão. Mas o luto é absolutamente normal e esperado!
Não sentir e demonstrar nada, pelo contrário, é indicador de que algo pode estar errado. É o que chamamos de “luto inibido”. Algumas pessoas preenchem o tempo com inúmeras atividades pra não se permitir vivenciar o momento da perda, e aí não digerem o luto.
A Psicologia afirma que é absolutamente comum que o luto se arraste ao longo de dias, meses, e, inclusive, alguns anos (diz-se que até 2 anos, mas esse número é apenas uma inferência estatística). A falta da pessoa amada fica ainda mais em evidência nas ocasiões e datas festivas.
Vamos conversar sobre algumas ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO que podem nos ajudar a lidar com a dor da separação…
Como lidar com o luto?
(1) Se permita digerir a emoção, mas faça isso no seu tempo e ritmo
Nós precisamos digerir o luto e, concomitantemente, seguir a vida. Reestruturar a rotina é um passo importante. Mas temos que determinar qual é o ritmo certo pra isso, ou o processo pode ser mais doloroso. Algumas pessoas mudam de endereço após a perda de um ente querido, outras, a seu turno, não têm coragem para desfazer-se de qualquer objeto que tenha pertencido ao falecido. Em linhas gerais: não fazer nada é tão pouco produtivo para a digestão da emoção quanto dar passos bruscos e repentinos.
É necessário discernir o nosso ritmo pessoal e respeitá-lo.
Há dias em que não vai ser saudável sair, encontrar amigos e familiares. Em outros, é exatamente isso do que iremos precisar. De pouquinho em pouquinho, conquanto formos dando passos, vamos aprendendo a recolocar a vida nos trilhos.
Ao oferecer o nosso apoio e conforto, é importante estarmos perto da pessoa enlutada, mas, também nós, respeitando o momento e os sentimentos presentes que ela estiver apresentando. Forçar alguém a mudar não é uma boa forma de promover mudanças positivas.
(2) Recorra à sua rede de apoio social
Nos momentos de luto é bom estarmos próximos das pessoas as quais confiamos e que nos transmitem segurança.
Procurar grupos e redes de apoio – instituições religiosas, centros comunitários, esportes, etc. – também ajuda a lidar com o vazio deixado pela perda da pessoa amada. Não significa substituir a presença da pessoa por outra pessoa, coisa ou atividade. Longe disso! Significa, sim, pensarmos em meios de preencher um vazio existencial que a morte do ente amado deixou em nós. Significa buscar novo sentido para a nossa própria vida, perceber que somos, ainda, apesar da dor, capazes de dar passos, de realizar atividades positivas e obter sucesso pessoal.
(3) Realize pequenos rituais de despedida
Uma forma positiva de lidar com o luto é a partir de pequenos rituais. Ações concretas nos ajudam a projetar e a manejar nossas vivências interiores, inclusive a tristeza e a dor.
Escrever uma carta ou bilhete à pessoa falecida ou, dentro de um contexto religioso, a Deus, agradecendo pelos bons momentos compartilhados ou pelas qualidades da pessoa, declarando saudades e amor… São ações simples que nos ajudam a entender o que estamos sentindo, como estamos vivendo desde a despedida. Ao transformar a emoção em palavra, temos mais facilidade em trabalhar com ela, em entendê-la e ressignificá-la.
A meditação e a oração, para quem as pratica, também são formas rituais de entrarmos em contato com nossas emoções e de darmos novo rumo e significado a elas. Permitir-se parar e buscar a transcendência, sair da concretude da vida, ajuda a superar a dor emocional da perda.
Transformar a dor em boas ações também nos ajuda a superar a perda. Quem perdeu um ente querido em um acidente de trânsito ou vítima do alcoolismo, por exemplo, pode engajar-se em campanhas de conscientização e prevenção sobre direção responsável ou contra o uso abusivo de álcool.
(4) Se perdoe
Sentimento comumente experimentado frente à situação da morte é o sentimento de culpa. Geralmente, as pessoas dão força à ideia de que poderiam ter feito alguma coisa para evitar o falecimento da pessoa amada. Ou, ainda, sofrem porque a pessoa se foi, sem que fossem resolvidas desavenças, brigas e mágoas existentes entre elas. A culpa torna o luto mais pesado, nos incapacita de dar passos. Se esforçar em perdoar a si mesmo é, portanto, essencial para que a vida prossiga.
O perdão a si mesmo vem, também, a partir de pequenos rituais, da meditação, da oração. Buscar evidências de que não somos responsáveis pela perda ou de que a mágoa existente não tinha, de fato, tanta importância, também são formas de se ajudar.
Outra estratégia é pedir e oferecer perdão às pessoas mais próximas ao ente falecido.
(5) Busque ajuda especializada
Em situações mais graves, quando o luto se torna patológico e incapacitante, é essencial procurar ajuda especializada. Não podemos negligenciar a força das emoções que vivenciamos. O psicólogo pode nos auxiliar a lidar com elas e a encontrar as estratégias mais adequadas para lidarmos com a perda e para recomeçar a vida.
(6) Socialmente, precisamos definir estratégias para uma “Educação para a Morte”
Se a morte é um fato certo e natural, não faz sentido (e nem bem) ser um assunto tabu. Como vamos saber lidar com a morte, se ao longo de toda a vida fugimos dos assuntos relacionados a ela?
Campanhas sociais e medidas educativas precisam ser elaboradas para educar as pessoas, desde a idade escolar, para a vivência da morte e do luto. É uma ação necessária para a prevenção de transtornos de saúde emocional.
Individualmente, podemos recorrer às artes (cinema, música, literatura…) para, ao longo do nosso desenvolvimento, irmos entrando em contato com as nossas próprias impressões acerca da morte e do morrer.
Pensar a própria finitude também é atitude necessária: saber-nos limitados nos impulsiona a bem viver cada dia, a fazermos escolhas mais acertadas, a vivermos de forma mais responsável, a valorizar o “hoje”.
Afinal, o “hoje” é tudo o que temos.